quarta-feira, junho 17, 2009
Durante décadas o Brega sobreviveu no interior dos Estados e nos quartos dos fundos das grandes metrópoles. Tido como um estilo para gente pobre, ignorante e “sem cultura”, fustigado pelas elites intelectuais e/ou econômicas - que em certos casos cantavam a plenos pulmões hits dos anos 70 como I will survive, mas torciam o nariz para Odair José – o brega assim foi traçando sua trajetória de sucessos.
Artistas como Raul Seixas, que chegou a tocar para platéias de empregadas domésticas e garis no início de sua carreira, Wanderléia, Roberto Carlos e outros que começavam a tocar pop- rock no Brasil eram tidos como cafonas e alienados, enquanto a facção intelectualizada era seguidora de Chico, Caetano, Gal e toda a turma da Tropicália, ícones da luta contra o regime militar.
É Como se houvesse um apartheid na música: Música de branco X música de preto. Música de pobre X música de rico. Música de engajados X músicas de alienados.
Enquanto possivelmente houve uma identificação da população com as letras fáceis e cotidianas do Brega, que possivelmente se sentia retratada em sua letras, a classe média incutiu no gênero um preconceito tão arraigado, que até a própria população de baixa renda passou a olhá-lo com maus olhos. Como se a classe média conseguisse plantar nessas pessoas um preconceito contra si mesmas, fato interessante e que ocorre em vários campos, não apenas no musical, mas no cultural e social de maneira bem ampla.(Me lembra o Hotel Ruanda, onde as pessoas se sentiam parte de um grupo porque os brancos estrangeiros os dividiam assim.) Essa imposição de uma cultura dominante é muito subjetiva, mas ao mesmo tempo extremamente palpável. Os conceitos não são engessados, eles mudam com o tempo, assim como a sociedade e os conceitos morais. O Brega tão criticado nos anos 60 e 70 hoje é cult. Agora é cool gostar do Samba de Cartola, Noel Rosa e Lupicínio, que sendo uma música surgida no morro, também era marginalizada.
As opiniões são tão volúveis e preconceituosas, que, uma mesma música, gravada por um intérprete diferente, ou num ritmo diferente pode causar impressões completamente diversas numa mesma pessoa.
Então, o que é brega e o que é chique? Expoentes da MPB como Caetano, Chico, Bethânia e João Gilberto gravaram recentemente clássicos do brega como Sozinho de Peninha, Você não me ensinou a te esquecer de Fernando Mendes, Fera Ferida de Roberto Carlos, Ronda, de Paulo Vanzolini. Em contrapartida, na década de 60, a cantora Maysa, ícone da música de fossa, foi tida como brega pelos representantes da bossa nova, mas ainda assim, foi ela que ajudou a legitimar o gênero.
Causa espécie a volatilidade das opiniões. É comum ver atualmente festas onde tocam músicas dos anos 80, como hits de Gretchen, Sidney Magal e Beto Barbosa e os jovens se acabando na pista de dança. Como essa geração, filha daquela que era jovem em 60 e 70 aprecia tanto aquilo que era refutado pelos pais? Será que isso mais uma vez prova que a identificação dos jovens é com tudo que nega as gerações anteriores? Não se sabe o que determina essa linha tênue, mas, creia, música também têm mobilidade social. Música pode ser Brega hoje... E cult amanhã!
“Não deixe o Brega morrer, desse jeito pode acabar...”
Da mistura rítmica à reviravolta industrial.
Sobejantes as tendências naturais, pois segundo Stuart Hall, com a globalização a tendência é a cultura local e global se fundirem, dando origem ao novo, desconfio que o Brega também o fez por uma questão de legitimação. Ariano Suassuna costuma dizer que quando Chico Science misturou o rock ao maracatu, equivocou-se ao achar que estaria agregando valor ao maracatu - que é uma coisa boa – misturando-o com o rock, que é uma coisa ruim. É a melhor ilustração possível do radicalismo que move certos intelectuais reacionários, na sua busca (lembra o fascismo) para manter a “cultura pura”, sem as nojentas misturas com as culturas estrangeiras. Xenofobias à parte, para a infelicidade destes, essa pureza é cada vez mais rara. Manter a cultura intacta aos estrangeirismos e sua influências custaria o isolamento, e talvez ainda assim fosse impossível. A tendência das identidades e da própria indústria é que o global e o local, fundem-se dando origem ao glocal.
Se você transforma uma música famosa e socialmente aceita pra o ritmo Brega, e ela passa a ser aceita por setores da sociedade que antes à rejeitavam, a fórmula da mistura das identidades, funciona, ainda que desagrade aos seus combatentes mais empedernidos.
A revolução cultural-industrial que vem ocorrendo na música de uma maneira geral, deve-se em grande parte, às novas tecnologias surgidas. Com a internet e os aviões, e a migração cada vez mais constante, por vários motivos, e muitos outros fatores, as culturas misturam-se cada vez mais rápido, sumindo, ou não, e dando origem às novas manifestações. Claro que isso é uma coisa que ocorre há séculos, um bom exemplo é a colonização do Brasil, mas o que muda é a velocidade lancinante com que ocorre, devido a disseminação de dados via internet.
Outro fator de mudança são os programas de computador que permitem a mixagem e sampleamento em casa, ou em pequenos estúdios semi-caseiros. No Pará, devido à sua proximidade e limites fronteiriços com inúmeros países, misturou-se desde sempre o Brega com outros gêneros, como , Lambada, Merengue, Xote, Zouk, Forró, entre outros. Essa mistura deu início ao Brega-pop, que foi sendo atualizado ao Calipso, originado do ritmo caribenho homônimo. Hoje é possível encontrar, mais de 20 tendências do bregapop. As mixagens são feitas em pequenos estúdios ou nas próprias residências, e distribuídas para as carrocinhas de CDS “Piratas” e para as aparelhagens. A indústria teve que mudar e adaptar-se às novas tecnologias, passando a fazer do CD não um instrumento de ganhar dinheiro, mas sim de divulgação para venda de outro produto: Os Shows.
Desde o início da revolução industrial, até os dias de hoje, as músicas ditas “comerciais” não são vistas com bons olhos. Resquícios do catolicismo são responsáveis por esse senso-comum que o dinheiro é prejudicial, ao contrário dos evangélicos, que creem que prosperar também é uma graça Divina.
As críticas ferrenhas vieram também da academia, não esquecendo que Adorno, em A Dialética do Esclarecimento, ainda achava que a arte não era mercadoria, mas sim expressão pura e simples.
Hoje a música é cada vez mais pensada e criada, acima de tudo, para vender. No entanto, é impossível que se separe totalmente os fins comerciais de características e sentimentos de quem a faz. Então, todos os gêneros comerciais ou não, carregam em seu D.N.A idiossincrasias de seus criadores. Não será também uma forma legítima de expressão? Quem pode decretar essa legitimação ou não? Será que as vendas atestam alguma coisa? “Vox populi, vox Dei”?
Referências Bibliográficas
Brega Pop - do Brega Pop ao Calypso do Pará
HowStuffWorks - Música Brega
Brega Pop - Tecnobrega - A música paralela
Bregapop – O Portal da música paraense
terça-feira, junho 16, 2009
O Brega tem como precursora a música de fossa e dor-de-cotovelo em geral, muito difundida no Brasil nas décadas de 20 e 30, que poderia ser chamada de brega, mas não é. Até porque até então não cumpria a função social do brega. Mas que função é essa? O que é brega?
Brega é muito mais um estado de espírito, do que apenas uma música. Brega é antes de tudo um conceito estilístico, bem antes de ser um ritmo. Brega é um termo pejorativo, e essa música até então era socialmente aceita. Então ainda não era brega.
Mas foi com os mesmo DNA, que, com o passar dos anos, o brega veio a crescer, e ser assim chamado. É considerado o pai do brega o saudoso Waldick Soriano, a partir da década de 50. Então, são irmãos do brega: As serestas, sambas-canções e boleros da época, interpretados por Nelson Ned, Agnaldo Timóteo, Moacir Franco, Vicente Celestino, entre outros. É difícil chegar a um denominador comum quando se trata de definir o que é brega. Uma boa definição é a da jornalista Miriam Fávaro:
“A música brega pode ser identificada como uma estética do exagero. Suas letras românticas, dramáticas ou eróticas demais, somadas à interpretação, ao gestual e ao figurino também exagerados, conferem uma característica marcante ao gênero”.
Poderíamos enquadrar então inúmeros artistas no rótulo brega, ao adotarmos um conceito meramente estilístico para definí-los. Será que o pessoal da Jovem-Guarda é brega? Será que o “rei” Roberto Carlos é brega? E que tal a mundialmente famosa musa do pop, Madonna?
Para a antropóloga e historiadora Adriana Facina, há vários padrões estéticos que são comuns ao estilo brega. Eles se revelam nos temas, no vestuário, nos gestuais e na forma de cantar. Um desses padrões é o romantismo exagerado, que já estava presente nas canções brasileiras desde o início dos anos 30. Sendo assim, fica clara a compreensão de que o brega independe do ritmo, de quem canta e de quem ouve. Será que isso é suficiente para delimitar o que é brega? É pouco. Para saber o que é ser brega, é preciso sentir o peso de carregar esse estigma. É preciso sofrer com o rótulo tanto quanto seus intérpretes parecem sofrer cantando, ou seus compositores nas letras das músicas.
O brega para ser brega necessita de um contexto. Em especial, de um contexto social, onde esse tipo de música sempre sofreu discriminação e foi tachado de música para pobres, para pessoas sem cultura.
Para nós, Brega vai ser o que, além da estética, sofre preconceito social. Podemos ver no dicionário que brega é um termo pejorativo. Então para nós, só é brega o que, além de esteticamente, o é socialmente.
História do Brega
No final dos anos 50, o desenvolvimento urbano, o crescimento econômico e a liberdade política fizeram surgir no Brasil uma juventude de classe média pronta para consumir novos bens reais e simbólicos mais de acordo com a modernidade daqueles tempos. Surgiu então a bossa nova, que trouxe uma forma minimalista de cantar, atuar e tocar, além de letras leves e uma harmonia sofisticada. Por contrastar totalmente com o excesso do estilo anterior, acertou em cheio nas preferências daquele novo consumidor urbano. O estilo romântico antigo passou então a ser classificado como de mau gosto ou “cafona”, conforme classificação dada pelo jornalista Carlos Imperial no começo dos anos 60.
O Brega (aquele que cumpre a sua função social) surgiu nos anos 50, junto com um série de mudanças sociais, econômicas, politicas e culturais. A juventude, que até então não tinha uma música só para si, e que tem por costume desde sempre negar o que é oriundo de gerações anteriores, prontamente passou adorar a Bossa Nova em detrimento da música romântica.
Para azar de seus ícones e epígonos, o contexto político da época não ajudava. A música era um instrumento de protesto e o brega considerado alienado, aumentando o fosso entre elas para o campo ideológico. Até a Jovem-Guarda era considerada cafona. Enquanto o regime militar procurava censurar qualquer manifestação que fosse contrária à ele, a MPB, novo gênero recém-surgido, tentava burlar a repressão com metáforas, e a música brega cantava o dia-a-dia de pessoas do povo, comuns, ganhando assim mais espaço na mídia que a “maldita” MPB. Tornou-se a principal opção para a indústria fonográfica e os meios de comunicação de massa. Até hoje o brega guarda esse estigma de música comercial. Não só de música. De qualquer coisa comercial e popularesca em geral, como é possível acompanhar na definição de um famoso dicionário:
“Que apela para o gosto popular: programas de TV bregas”
“Diz-se de música com exageros de romantismo e dramaticidade, geralmente feita para as camadas populares”
Há dificuldades para classificar o Brega enquanto gênero musical inserido ou não na indústria cultural, devido às suas subdivisões; ele oscila entre indústria e resistência em alguns momentos da história, porém passando a maioria absoluta do tempo inserido na indústria. Afinal, esse conceito é bastante abstrato, em especial no Brasil, onde a classe média economicamente dominante é completamente heterogênea e não necessariamente é também a classe intelectualmente mais favorecida.
Entretanto é fácil classificá-lo fazendo um apanhado geral, com números absurdos. Gretchen vendeu cinco milhões de discos no Brasil e dois milhões entre Argentina, Paraguai e Uruguai apenas com o disco My Name is Gretchen. Ela se apresentou na Coréia do Sul, por toda Europa e Estados Unidos, inclusive com shows de lambada, ritmo que era um hit nos anos 90. Até hoje é presente em shows, na tv e em disco, e é por muitos reconhecida como a pioneira de um estilo. Assim como Beto Barbosa que chegou a vender cerca de 6 milhões de cópias, conquistando dois discos de diamante, sete de ouro e outros sete de platina-duplo, além de cantar na Europa, África e Estados Unidos. José augusto Até 2008, vendeu aproximadamente 20 milhões de discos em todo o mundo. Depois de Roberto Carlos, é o artista brasileiro que mais vendeu discos na América Latina.
Mais recentemente o fenômeno Calypso além das boas vendas a banda ganhou o título de artistas mais populares do pais no mundo da musica, seguidos deles a dupla Zezé di Camargo e Luciano, nessa mesma lista nomes como Roberto Carlos, Ivete Sangalo também foram citados.
quinta-feira, junho 11, 2009
Alguém sabe o que é brega?
Ao longo da semana eu vou publicando aqui textinhos.
O QUE É BREGA?
1 Bras. Pop. Que não é refinado nos modos ou na maneira de vestir (pessoa brega); CAFONA; CARETA
2 Que não é chique ou estiloso (roupa brega); CAFONA
3 Que apela para o gosto popular: programas de TV bregas
4 Diz-se de música com exageros de romantismo e dramaticidade, ger. feita para as camadas populares
5 Diz-se de cantor desse gênero de música
6 Pessoa brega (1)
7 A música brega como gênero musical
[F.: De origem obscura]
Dicionário Digital Aulete
Acepções
Regionalismo: Brasil. Uso: informal, pejorativo.
1 que ou quem não tem finura de maneiras; cafona
2 de mau gosto, sem refinamento, segundo o ponto de vista de quem julga
2.1 m.q. kitsch (adj.)
3 de qualidade reles, inferior
Regionalismo: Bahia. Uso: informal.
4 zona de meretrício
Etimologia
origem obscura
Dicionário Houaiss da língua portuguesa.
A palavra brega deriva da Rua Manuel da Nóbrega, em Salvador, rua esta que ficava numa região de meretrício da capital baiana. Com o tempo, a primeira sílaba da placa com o nome da rua foi ficando corroída e as pessoas passaram a se referir aos prostíbulos dessa região como "brega". A partir disso, o termo se espalhou e, até os anos 1970, tinha também o sentido de "desordem", "confusão", através de expressões como: "isto aqui está o maior brega!", "que brega é esse?", etc, associando um ambiente, ou situação qualquer, ao caos de um "brega" . No início dos anos 1980, o compositor Eduardo Dusek, depois de uma passagem por Salvador, usou a expressão na composição "E o Vento Levou Black", mas conhecida como "Brega-Chic", porém com um sentido diferente da gíria baiana: no novo sucesso de Dusek, a palavra "brega" estava associada a tudo o que fosse "deselegante", "cafona" ou "foleiro", em uma clara referência ao estilo dos freqüentadores da "Zona do Brega". Outra origem provável para a palavra brega seria originária do Rio de Janeiro, como uma corruptela da gíria "breguete", palavra pejorativa e preconceituosa, usada pela classe média para designar empregadas domésticas e que por extensão passou a designar também seu gosto característico de origem popular.
Fonte: Wikipedia.
:)
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